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Pesquisa do ACNUR aponta que 96% dos empresários da plataforma Refugiados Empreendedores querem ampliar seus negócios no Brasil

Diagnóstico foi realizado pela Agência da ONU para Refugiados e Innovare Pesquisa com 63 empreendedores de diversos segmentos de negócio e localidades

O casal Motaz e Limia deixou a República do Sudão, terceiro maior país da África, em 2001, após perseguições políticas. Eles vieram ao Brasil e, em 2017, abriram o Mobi, restaurante de comida árabe em Cuiabá, no Mato Grosso. “Eu e meu marido gostamos de cozinhar, então  é um trabalho que sai da alma. O povo cuiabano tem calor humano e vinha aqui nos abraçar. Nestes anos de negócio, os clientes viraram amigos”, comenta Limia.

Com foco na comida libanesa e síria, o local vende tabule, babaganoush, homus, quibe cru e frito, esfihas, kafta, entre outros pratos típicos da gastronomia árabe, trazendo novos gostos e temperos para a sociedade brasileira – além de diversificar a economia local. O casal planeja ampliar ainda mais o negócio e transformar o local em um centro cultural. “As pessoas não vêm ao nosso restaurante só para comer, a gente conversa muito. Eles perguntam sobre nossa religião, costumes, por que uso hijab (véu muçulmano). Nossa ideia é montar tendas e em cada uma mostrar a decoração e a cozinha de um dos 22 países da região. Esse é o nosso sonho”, acrescenta.

Assim como eles, 96% dos empresários da plataforma Refugiados Empreendedores planejam ampliar seus negócios no Brasil. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e Innovare. O diagnóstico mostrou ainda que, para 69% dos respondentes, o empreendimento representa a principal fonte de sustento de sua família e 63% já empreendiam no país de origem. 

“Esses resultados demonstram o papel fundamental do empreendedorismo para a retomada financeira e autonomia das pessoas refugiadas que vivem no Brasil. E que esses empreendedores, além de terem habilidades e experiências formadas no país de origem, são qualificados para empreender no Brasil, já que 81% responderam que passaram por alguma capacitação na área”, acrescenta o Oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do ACNUR, Paulo Sérgio Almeida.

Formalização de negócios e colaboradores

Outros dados coletados pela pesquisa dizem respeito a como os empreendedores refugiados impactam na economia da comunidade de acolhida. Grande parte (71%) possui CNPJ, o que significa que têm um negócio formal no Brasil, com recolhimento de impostos e outros atributos. Além disso, quase metade dos empreendedores entrevistados (44%) contratou funcionários no Brasil, sejam brasileiros ou compatriotas. Ou seja, estão contribuindo com a geração de renda e empregos no Brasil, aumentando as oportunidades de renda e elevando a experiência profissional de outras pessoas. 

O diagnóstico traz ainda que o principal meio de venda dos produtos é pelas redes sociais (84%), porém muitos contam com loja física (47%). 

O levantamento também mostra que o caminho de empreender no Brasil não é fácil e pode ser muito burocrático, especialmente para pessoas refugiadas. Elas apontaram que os principais desafios de ser um refugiado empreendedor no Brasil são formalização e aspectos burocráticos (23%), recursos para investimento (21%) e idioma (15%). Ainda assim, 73% avaliaram a qualidade de vida no Brasil como “ótima” e praticamente todos (97%) têm disposição para auxiliar outros refugiados empreendedores.

Sobre a pesquisa

Embora a plataforma Refugiados Empreendedores tenha mais de 100 refugiados e migrantes listados, a pesquisa foi realizada com 63 respondentes que integram a plataforma Refugiados Empreendedores. Os respondentes são de origem da América Latina (75%), Oriente Médio (14%) e África (11%) e as principais cidades onde estão empreendendo são São Paulo (SP), Boa Vista (RR) e Manaus (AM), sendo maioria mulheres (60%). As empresas destes empreendedores, de forma geral, têm tempo médio de três anos de existência. 

Sobre a plataforma Refugiados Empreendedores

plataforma Refugiados Empreendedores é uma iniciativa do ACNUR e Pacto Global da ONU no Brasil e tem como objetivo divulgar e dar visibilidade a empreendimentos liderados por pessoas refugiadas no Brasil, além de apoiar capacitações e outras oportunidades. A pesquisa aponta que 27% dos empreendedores realizaram vendas por estarem na plataforma, 41% deram entrevistas a matérias jornalísticas e 49% participaram de encontros ou cursos promovidos pela iniciativa. 

Criada em fevereiro de 2021, a plataforma atualmente conta com mais de 120 negócios listados. Eles estão distribuídos em 34 cidades brasileiras, sendo majoritariamente compostos por mulheres de nacionalidade venezuelana que lideram empreendimentos no segmento da gastronomia. Mas há inúmeros negócios na área de artesanato, design e arte, moda, entre outras, inclusive com entrega para todo Brasil. Confira aqui os empreendimentos. 

Alguns dados de destaque da pesquisa ACNUR e Innovare Pesquisa:

  • 88% das empresas têm mais de três anos de existência no Brasil
  • 69% são a principal fonte de renda da família
  • 71% possuem CNPJ
  • 63% empreendiam no país de origem
  • 96% pretende seguir e ampliar com seu negócio
  • 60% dos entrevistados trabalham somente no seu negócio, não têm outro emprego